quinta-feira, 15 de outubro de 2009

O fim não é em vão.

Perdido, insanguentado, fora encontrado diante de sí mesmo, por sí mesmo, ao olhar-se no espelho. O calor que correra sob suas veias, congelara-se. O suor caia ao chão, mas despedia de sua face, seco e fresco. Tentara levantar-se. Em vão. Despido de pudores, caminhou rente ao teto e olhou-se de cima. Ja estava fora de sí.
Ao chão, avistava, sob olhares túrgidos e abaláveis, um copo, papéis, isqueiro sem cigarros, sangue e seu corpo.
O que acontecera ele não sabia explicar, resolveu correr dali, transpor paredes e livrar-se dele próprio. Avoado, voou em direção sem rumo, ou melhor, sem direção; e, por menos entendido que estivesse, de lugar nenhum chegou a algum lugar.
Aquela casa. Aquele cheiro. A porta de marfim reluzia, parecia diáfana e por ela passara sem problema algum.
Os sofás dúbios, as gélidas paredes, os quadros quietos de vozes caladas em expressões que tinham algo a dizer. Perguntou a eles, ora essa, aonde estaria naquele momento? Nada era estranho; tudo, contudo era inconcebível. Queria o material, a matéria viva, tocada, inalada, envolvida por seus braços.
As escadas mórbidas, os talheres prateados, os copos escuros, mal lavados. Olhares oblíquos e dissimulados, pérfidos e calculados, pareciam estar, de longe, vasculhando-o. Corria rápido feito guepardo, apressado como o coelho atrasado num País sem Alice nem Maravilhas.
Subiu aos céus, da chaminé à lareira, ladeira abaixo, incendiou os cômodos. Em vão. Acendeu o gás, afixia? Em vão. Ele não era mais terreno, quiçá sereno, de sentimentos pulsáteis num coração funcional. Percebia que nada mais valia, validade temida que chegara ao fim.
Passeou pela casa, sem fotos nem nada. Notou-as faltar. Vasculhou armários, guarda-roupas, gavetas foram ao chão. Em vão. Tudo sumira dali, nada restara de ti.
E conto-te tudo agora, mesmo que por fugires para longe sem deixar ao menos palavras de Adeus, mereces saber de tudo. Abortou-se em sua vida, hostilizada por teus sentimentos. Repasso-te as últimas palavras dele, que ao vê-lo morrer, escutei e deixei-o lá, a fim de que sozinho, prestasse a sí próprio o resquício do que sentia por ti.
Lentamente.
Letargicamente.
Sutilmente.
Fielmente.
Com a mente voltada a ti, pensando em ti, desejando somente o teu amor,
Morreu por amar demais.

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